O militar Guido Manini Ríos, somente o general comandante do exército uruguaio, ficará preso por 30 dias por ter emitido opinião sobre a reforma que muda as regras de aposentadoria dos militares, inclusive criticando diretamente o ministro Ernesto Murro, responsável pela pasta do trabalho, que não estaria levando em consideração as consequências deste projeto.
Sabe o que aconteceu? Cana. 30 dias no cantinho para pensar no que disse sobre aquilo que - pelo visto - não lhe diz respeito.
Segundo o El Pais, o comandante do exército uruguaio disse numa rádio que
Se o senhor ministro pegar uma calculadora, tomar os termos da lei e a realidade do nosso soldado, vai perceber que o que eu digo é verdade.
Pelo visto, a democracia uruguaia permite somente a cidadãos civis o direito de se expressar politicamente. Isso porque a constituição uruguaia estabelece isso de forma explícita.
O militar do Uruguai deve, conforme está subscrito na Constituição do Uruguai, independente de sua patente,
fazer parte de comissões ou de clubes políticos, de subscrever a manifestos de partidos, de autorizar o uso de seu nome e, de modo geral, de executar qualquer outro ato público ou privado de caráter político, exceto o voto
Vale lembrar que essas ações realizadas pelo presidente Tabaré Vázquez fazem sentido se relembrarmos que o período entre 1973 e 1985 foi extremamente conturbado pela mão pesadíssima dos militares sufocando os pensamentos civis contraditórios às ordens.
A herança que ainda perdura na memória do cidadão do Uruguai
O Golpe Militar do Uruguai foi um dos mais opressores, pois se inspirava nas ações do ditador chileno Pinochet. O Uruguai até hoje tem marcas deste período tão violento. Inclusive, os militares se preocuparam em criar leis que pudessem protegê-los das consequências de suas ações sem qualquer justificativa que não fosse a crueldade e o exercício opressor de poder.
A ditadura uruguaia fechou o senado federal, a câmara dos deputados e criou um conselho de Estado para substituir os legisladores durante a vigência do poder militar.
Sob esta perspectiva, faz todo sentido hoje a prisão do comandante do exército. Isso apenas demonstra como a sociedade uruguaia ainda não conseguiu cicatrizar as feridas tão profundas das ações militares daquela triste época.
Por isso, faz sentido também a constituinte que traz o artigo 77 da carta petra do Uruguai sobre os direitos políticos relativos aos militares. Vázquez ainda miniminiza o episódio reconhecendo as nobres intenções do comandante sobre a crítica, mas nada suaviza a cana de 30 dias que demonstra aonde está o controle do poder político no Uruguai.
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