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PSL descobre quem é Janaína Paschoal

PSL descobre quem é Janaína Paschoal
Rafael Cardoso
jul. 23 - 6 min de leitura
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Uma das autoras do processo que destituiu Dilma Rousseff da presidência da república, Janaína Paschoal fez um discurso com grande pragmatismo plural dentro de um ambiente hostil a este posicionamento e gerou constrangimentos que esfriaram os mais motivados da torcida presente. Será este mais um capítulo da política amadora que os partidos insistem em fazer no Brasil de hoje?

Em pleno evento para consolidação da candidatura de Jair Bolsonaro ao pleito destas eleições presidenciais, o PSL acabou se surpreendendo com o discurso contrário à histeria coletiva proferida no ambiente.

No entanto, mesmo fazendo discurso posterior ao momento da doutora, Jair Bolsonaro tentou inserir ela em suas argumentações de ordens. Obviamente, em exercício político, o candidato do PSL não quis valorizar a presença dela ali, mesmo que tudo tenha sido ensaiado para consolidar a dobradinha. O deputado federal poderia ter caminhado por essa linha, mas precisou improvisar por cerca de 50 minutos entregando a energia que a plateia ansiava.

Quase lembrei neste momento daquela velha piada, aonde uma multidão ficava aguardando o apresentador de um palco gritar: — Vocês querem Chu? Vocês querem Chu? E depois da plateia frenética gritar a palavra sim... Ele coloca um ferro quente no balde cheio de água e faz o som CCCHHHHUUUUUU!!!!!!! A onomatopeia que se torna o punch da piada infame e sem sentido.

Afinal de contas, eles não entenderam quem é a doutora que ministra aulas na USP?

Se fosse possível colocar Janaína Paschoal em contraponto com Bolsonaro, entenderíamos que a chapa desta dupla fica inviável. Enquanto o deputado federal prega o fanatismo em seus discursos, a doutora levanta o perigo deste tipo de comunicação se assemelhar ao fanatismo petista em prol de Lula. E isso em plena convenção. Já demonstra que essa mulher tem coragem para fugir do senso comum em ambientes majoritariamente contrários aos seus princípios.

A única mulher a discursas, Janaína levanta inúmeras questões sobre as reais prioridades que enxerga para o Brasil. Uma questão bastante enfatizada é o processo de impunidade sobre os poderosos que ainda defendem a cultura da impunidade. E sobre este argumento, ela chama a atenção para o pensamento radical sobre linhas ideológicas, mas isso foi apagado ao ceder o lugar para o discurso de Bolsonaro. 

Gritos, urros, saudações emocionadas abriram o discurso de Bolsonaro. E tudo aquilo que Janaína Paschoal quis professorar acabou espairecendo como um vapor. 

O que aconteceu foi o exercício de constrangimentos mútuos. Isso porque a própria Janaína no dia seguinte, em entrevista à rádio Jovem Pan, disse que a comparação sofrida em relação ao militar torturador foi como um soco, mas tentou entender o juízo de valor à princípio positivo.

Essa entrevista demonstra como é inviável a dobradinha Bolsonaro / Janaína. Até porque ela reconhece o poder que tem sobre parte da sociedade e busca ser protagonista em algum aspecto sobre esta candidatura.

Por que exercício mútuo de constrangimento? Porque Janaína Paschoal talvez não tenha entendido o ambiente a fazer debate. Enquanto ela estaria provocando uma plateia de fanáticos, suas palavras se esvaiam sem o menor eco diante dos cidadãos ali presentes.

Seria ali o ambiente para fazer este tipo de enfrentamento? Talvez. Porém, o que ela mais provocou na massa foi irritação pelo tom negativo à energia de amor proferida pelas pessoas que ali estavam para colocar fervor ao triunfo de um candidato amado.

Ótima provocação de Janaína Paschoal

O que a doutora da USP fez em seu discurso, mesmo que fora do eixo de audiência, criou uma comparação feliz sobre a visão doutrinária daquela plateia diante o herói candidato. O fervor do comportamento daqueles que defendem Bolsonaro se assemelha a loucura dos petistas em prol do desafortunado Lula.

Este ponto chama a atenção para um outro ponto de vista bastante coerente com esta visão. Quando Reinaldo Azevedo, âncora do programa O É da Coisa na Band News diz que Bolsonaro e Lula são duas faces do mesmo lado da moeda, significa que ambos são parecidos, porém, travestidos de ideologias contrárias e iguais (se é que isso faça sentido), mas com controle de massa igualitária.

O que acontecerá no futuro próximo da candidatura Bolsonaro?

Profetizo que esta dobradinha não vinga. Caso isso aconteça, mesmo que de forma maquiavélica, Janaína Paschoal estará traindo todos os seus valores e princípios em prol da máxima frase dentro do livro O Príncipe:

Os fins justificam os meios

Provavelmente, diante dos fatos históricos, Janaína estará assumindo o mesmo princípio dos últimos grupos políticos com controle do poder majoritário do presidencialismo. Grupos que nasceram do mesmo movimento político de ruptura de paradigmas. O mesmo movimento que consagrou o Partido dos Trabalhadores no poder apoiado por uma grande massa da sociedade. O mesmo pensamento proposto por Lula quando abraçou Paulo Maluf, Sarney, Renan e outros caciques antagonistas de sua linha ideológica anterior.

E novamente os brasileiros viverão apenas o mais do mesmo. 

Quanto ao futuro de Bolsonaro sobre sua candidatura sem Janaína, nada mudará. Afinal de contas, Bolsonaro nunca representou uma candidatura sobre ideologias ou pensamentos pragmáticos. O que significa a candidatura de Bolsonaro é a ruptura de uma hegemonia tradicional. Apesar de Bolsonaro fazer parte do mundo político há anos, ele conseguiu colar o selo de outsider sobre seu nome. E o radicalismo de direita virou o eco de um partido sem identidade, sem rosto, mas com nome, família Bolsonaro.

A candidatura de Bolsonaro é a inflamação de um universo sem acolhimento, carente por um pai e esperançoso num milagre. E o fanatismo é bastante presente na massa dos eleitores do candidato à presidência da república nestas eleições. Ao inflamar a plateia dizendo que os militares seriam bem mais valorizados em seu governo, ouviu-se na convenção do PSL o furor da torcida aos gritos de MITO com aplausos.

Pena que no dia seguinte às eleições, todos descobrirão que o futuro do Brasil não está num herói, mas num comportamento sociopolítico coletivo por mudança em prol de valores.


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