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Joaquim Barbosa: um outsider que virou genuíno outsider

Joaquim Barbosa: um outsider que virou genuíno outsider
Rafael Cardoso
mai. 9 - 7 min de leitura
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Joaquim Barbosa: um outsider que virou genuíno outsider. E deu um fôlego genuíno para toda a pecha política disposta a investir em pré-candidaturas para o pleito de presidente. Com essa saída permanente do processo político, Joaquim Barbosa demonstra que não faz parte do jogo político, tampouco está disposto a mudar sua essência por conta das exigências que os especuladores trazem ao debate.

O juiz do Mensalão, antes uma alternativa ao povo decepcionado com a classe política, agora fica à deriva. E os pré-candidatos parecem moscas ao redor do corpo em decomposição do quase pré-candidato, quase pré-vice-presidente de alguém.

A força política dele era tanta que, mesmo sem falar em sua condição como candidato para a presidência da república, tinha porcentagens expressivas nas pesquisas eleitorais. Ele que nunca tinha sinalizado uma certeza perante o jogo do poder com marketing pessoal provou o improvável, ou seja, fazer uma escolha valorosa diante a chance real de ser presidente.

Para uns ele parece ser um ET. Afinal de contas, como alguém pode negar essa chance com as condições vantajosas que ele atraía? Pergunta escabrosa mesmo para quem tem uma vida dedicada ao pleito, tal como o tucano Geraldo Alckmin.

Quem ganha com a saída de Joaquim Barbosa da disputa à presidência?

Mesmo ele sendo um mistério para os grupos políticos sobre sua conduta ou ideologia, Joaquim Barbosa tirava votos de todos. Isso porque ele tem uma carreira marcada pelo combate à corrupção, bandeira bastante urgente pelas percepções do eleitor. Claro que isso também desperta as polarizações, porque existe o discurso de que o Mensalão não foi tão profundo quanto as ações da Lava Jato.

Direta e imediatamente, quem ganha é Geraldo Alckmin. Isso porque ele agora consegue costurar uma aliança mais real com o PSB, principalmente por associar de novo a máquina do governo de São Paulo nas mãos de Márcio França. De novo Alckmin tem dois palanques no seu estado de origem, mesmo com a estranha reação de Dória sobre as críticas infantis do atual governador.

Quem também se beneficia é Marina Silva, pois disputava grande parte do eleitor que considerava Joaquim um outsider de interesse. Marina, mesmo não sendo outsider, é uma pessoa fora do eixo político tradicional. Ela demonstra grande apego ao propósito de representar o povo com grande senso ético em suas ações. No entanto, o que corre contra ela é sua inabilidade de comunicação ou energia de discurso para atrair os olhares mais carentes por uma liderança política mais forte.

Outra personalidade política que suspira é Ciro Gomes. Ele que parecia estar mais próximo do eleitor de corrente ideológica de uma esquerda mais central, parecia disputar também eleitores mais críticos e sem tanto apego a bandeiras radicais. Ciro Gomes também pode costurar alianças mais sólidas com o PSB, principalmente nas esferas estaduais, porque tenta atrair o partido para uma aliança mais expressiva.

Os candidatos empresários também podem se beneficiar porque podem sustentar com mais tranquilidade a alcunha de outsiders. Joaquim Barbosa parecia roubar afetos dos empreendedores Flávio Rocha e João Amoêdo. Mesmo sem expressão nas pesquisas, eles podem ter mais força de tração se sustentarem a percepção de que podem ser opções fora das oligarquias políticas tradicionais.

Álvaro Dias também pode se beneficiar porque tenta emplacar alianças mais sólidas, mas diferente de Ciro Gomes, ele quer mesmo sustentar o direito ao pleito para presidência. Álvaro está animado com as pesquisas porque demonstram ele ser uma opção de disputa mais presente, inclusive no reduto paranaense. Ele é um nome forte que pode assegurar até uma vice-presidência para os candidatos que tenham mesmo chance. Só vale lembrar como o vice é importante nas disputas eleitorais brasileiras.

Bolsonaro, por incrível que pareça, também respira aliviado. Isso porque ele sabe da importância do juiz aposentado do STF. Bolsonaro fez questão de o procurar antes para tentar aliar a dupla numa espécie de dupla dinâmica, ou seja, Batman e Robin. A dificuldade com certeza foi na composição dos papeis. Afinal de contas, quem iria se prestar ao papel de Robin. Bolsonaro teve a negativa de Barbosa e percebeu que o juiz aposentado não estava interessado em fazer alianças com ligação ao seu discurso.

Mesmo em silêncio, Joaquim Barbosa também foi assediado por partidos da dita esquerda. Precisamente, antes de sua escolha pela filiação ao PSB. No entanto, ao finalizar este processo, Joaquim mostrou que a corrente de pensamento iria totalmente contrária à esquerda explícita que apoia Lula, agora educando.

A confusão parece estar se amainando por conta desta saída repentina do pleito presidencial. No entanto, Joaquim parece ainda estar se preparando para enfrentar algum pleito. E o mais fácil pleito para ele talvez seja o governo do Rio de Janeiro, apesar de eu achar que isso seja somente especulação. Quem tem medo do cargo de presidente, não tem absolutamente ideia da bomba que é o Rio de Janeiro. Está mais fácil ser presidente na Síria do que governador no Rio.

Quem são os outsiders caídos pelo caminho?

Lembra da polêmica de Luciano Huck? Quase ele encarou o pleito. Porém, como visto por praticamente toda a sociedade, ele tinha mais a perder porque teria que descolar da Globo. No entanto, ele não foi o primeiro a sair.

Roberto Justus foi um dos primeiros a falar sobre o assunto. Ele foi bastante assediado, principalmente, por ser um empresário que tinha sucesso e popularidade, tal qual Donald Trump nos Estados Unidos. Roberto chegou a ser entrevistado sobre o assunto por algumas bandeiras jornalísticas, mas desistiu da ideia quando percebeu o embrolio que poderia se meter.

Bernardinho também era um outsider na disputa do governo do Rio de Janeiro. Não quis arriscar o prestígio. Provavelmente, com medo do efeito Marina Silva nas eleições passadas.

Quando a pessoa se propõe a jogar o jogo do poder, ela precisa estar preparada para aguentar as pressões sobre todos os aspectos de sua vida, seja na esfera profissional ou pessoal. Infelizmente, nossas eleições são pautadas por baixo nível de debate e alto grau de acusação. Isso porque os políticos se empenham em fabricar motivos. Quando as pessoas de senso comum tentam entrar na política, elas precisam estar cientes que serão achincalhadas sem o menor pudor. Por isso, as desistência por parte dos personagens fora do mundo da política.

Joaquim Barbosa foi talvez a maior perda deste perfil fora da política. Isso porque a corrente da polarização está tomando cada vez mais força e é ecoada pelos principais jornais, revistas, programas de rádio e telejornais. A imprensa está desempenhando um papel muito diferente de sua missão. Isso é fato! Ela será mais uma condutora do processo eleitoral do que um registro sobre os fatos.

Daqui para frente vamos rezar para que haja um personagem ainda fora do contexto presente. Do contrário, estaremos todos perdidos em nossas heranças malditas, afinal de contas, quem foram as pessoas que elegeram os políticos de hoje?

 


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