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Atentado a Bolsonaro: o que está além da facada?

Atentado a Bolsonaro: o que está além da facada?
Rafael Cardoso
set. 7 - 12 min de leitura
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Bolsonaro é vítima. Nada pode justificar a agressão ocorrida. Independente de ideologia, credo, crença, preferência partidária, preferência filosófica, nada se justifica o ato de violência contra qualquer pessoa.


Este post está longe de espelhar minha preferência política. No entanto, não me eximo de também ter simpatia pela situação de Bolsonaro, porque acredito que nada possa justificar a agressão sofrida pelo candidato do PSL. Não sustento aqui o argumento político pró ou contra o capitão da reserva, pois abordo as consequências deste evento e analiso aquilo que considero ser relevante para uma melhor reflexão pelo bem da cidadania.

Rafael Cardoso


Após a natural histeria que o fato desencadeou, enfim os ânimos começaram a serem apaziguados. No entanto, conforme o grau e as experiências de vida, as pessoas começaram a se manifestar diante o incomum atentado. Há aqueles que de alguma forma se preocupam com o termo morfológico capaz de expressar o evento, afinal de contas, seria um atentado mesmo? Seria só um ataque? Seria uma tentativa de assassinato? Como nomear o evento que aconteceu em Juiz de Fora?

Sim. Esta discussão aconteceu enquanto as informações pipocavam do diferentes origens relativas ao que realmente poderia ser considerado verdade. Bolsonaro foi levado às pressas, e enquanto havia ainda a interação por parte da competente frente médica da Santa Casa de Juiz de Fora, os próprios familiares tentavam lidar com as informações. Os filhos do candidato do PSL também tentavam de alguma forma se informar e informar os outros. 

Jornalistas exigiam do hospital informações que estavam sendo vazadas por grupos de whattsapp relativos aos médicos que trabalhavam no local. Pouco mais de uma hora se passou do evento e uma série de áudios demonstravam a preocupação da junta médica, e seus áudios eram vazadas indiscriminadamente.

A confusão que se estabilizou somente após às 21 horas, quando houve o feedback de forma oficial da junta médica do hospital Santa Casa. Informações foram organizadas por quem as detinha e o público teve a impressão correta da extensão do fato. Bolsonaro sobreviveu a uma tentativa de assassinato violenta e por pouco faleceu. Em razão da velocidade de socorro por parte de sua equipe, a competência da junta médica e sorte, Jair Messias Bolsonaro sobreviveu a um violentíssimo atentado desferido por Adélio Bispo de Oliveira.

O que está além da facada?


Bolsonaro desfilava com simpatizantes pelas ruas de Juiz de Fora quando sofre o ataque de Adélio Bispo de Oliveira


Além da facada está uma sociedade inflamada pela polarização. Tal como o agressor, inúmeros brasileiros praguejam diante as diferenças de ideias e ideologias. No entanto, o que todos como cidadãos deveriam levar em consideração é que não se pode propagar discursos de ódio sem levar em consideração a consequência de suas palavras.

Quando a polarização é pautada pela emoção, ela se aproxima demais do comportamento passional. Crimes passionais são tão similares uns sobre os outros que demonstram determinada semelhança. Caso seja comprovado que o crime contra Bolsonaro foi motivado por uma justificativa passional, estaremos diante um caso complexo, pois de alguma forma, todos aqueles que incentivam a polarização também incentivam este risco de haver mais eventos como aquele de Juiz de Forma sobre mentes mais frágeis, vulneráveis à histeria e pouco amadurecidas civicamente.

O que aqui se tem como objeto de análise é a consequência passional de um comportamento coletivo. Assim como os casos anteriores que aconteceram no Paraná com a caravana do Lula, antes de sua condenação e cárcere, o atentado de Juiz de Fora é uma ocorrência em temperatura elevada diante um comportamento cada vez mais corriqueiro.

Tal como os filhos de Bolsonaro disseram no dia do atentado, era previsível que isso aconteceria. Eles mesmos já tinham demonstrado grande preocupação diante a campanha de rua do pai. Segurança foi reforçada, tanto pelo aparato governamental quanto pela segurança particular do candidato. O que aconteceu pode ter sido um acaso do destino ou um premeditado crime difícil de se evitar, mesmo com o mais eficiente esquema de segurança. No entanto, o perigo apenas desnuda a irresponsabilidade de um grupo político que não compreende o poder de suas palavras diante um povo tão vulnerável.

Bolsonaro não é o provocador. Nem de perto devemos afirmar que ele de alguma forma teve a consequência de suas ideias. Até porque, ele está diante uma sociedade que leva a polarização de forma natural a tal ponto de famílias serem separadas por conta deste antagonismo sem sentido.

E neste ponto devemos refletir. Porque a violência da polarização já está acontecendo no seio da família. Quando parentes, amigos, conhecidos deixam de se falar, perdem amizades, afastam-se por conta das preferências políticas, isso significa que não entendemos o que significa a convivência dos contraditórios.

Seria possível haver discordância de ideias e convivência harmoniosa sobre estes indivíduos?

Nós contra eles

Quando vivemos diante antagonistas, não conseguimos identificar o maniqueísmo tão claro da dramaturgia. Tanto na novela quanto nos filmes e seriados, há bem mais facilidade de se entreter quando enxergamos os estereótipos da trama. Por que as histórias de heróis são tão legais? Porque lá há clareza sobre quem é o bandido e quem é o mocinho. No caso da nossa sociedade, quem é quem?

Como tentar diminuir o movimento antagonista? Como construir uma harmonia dos contraditórios?


"Quem cometeu o crime é gente do lado deles. Acusam Bolsonaro de ser violento, mas quem foi violento é gente deles. Se Bolsonaro não puder fazer campanha, nós faremos campanha por ele. (...) Se nós precisarmos abandonar a campanha dos outros candidatos para fazer campanha para ele, nós vamos!"

Janaína Paschoal


Esse papel é bem mais difícil de reverter porque precisa ser combatido com o antídoto para o ódio, ou seja, o bom senso. Além de ser um elemento raro diante este contexto, o bom senso tem temperatura bem mais branda que a gritaria do ódio.

Quem poderia potencializar este bom senso e construir um discurso coletivo mais amplo seriam os formadores de opinião. Porém, tal como você percebe na referência deste vídeo com Janaína Paschoal, os formadores de opinião não assumem o protagonismo para pacificação. 

Aliás, o grande desafio sobre esta conturbada eleição é justamente o bom senso. Poucos são aqueles que de alguma forma imprimem o discurso responsável. Mesmo os outros candidatos expressando grande respeito sobre a convalescênça de Bolsonaro, não conseguem construir um discurso unitário.

A comoção diante o sofrimento do candidato do PSL pode ser um fato político de grande relevância sobre as eleições 2018, mas ela não será o prêmio pelo risco que o político correu e ainda corre perante as sequelas do ataque. Talvez seja ele a pessoa a puxar todos para o bom senso, mas isso seria contar com uma transformação tão bruta sobre a personalidade do candidato quanto a violência do ato desferido por Adélio Bispo de Oliveira.

Resta saber a resposta sobre a pergunta mais importante da política brasileira? Até quando estaremos separados pelo estereótipo "Nós contra eles"?

Quem é Adélio Bispo de Oliveira, o agressor de Bolsonaro?


Logo após o atentado contra Bolsonaro, surge o nome do agressor nas redes sociais e uma série de perfis falsos são criados simulando uma personalidade sugerida, no entanto, pouco se sabe ainda sobre o agressor.


Não sei.

Exatamente isso.

Não se pode afirmar nada ainda sobre o agressor. Isso porque ele foi detido, imediatamente, após a facada contra Bolsonaro. A dificuldade de aferir qualquer especulação sobre as motivações de Adélio Bispo de Oliveira é enorme. Mesmo com algumas agências de notícias registrando conversas com a sobrinha, pouco ainda se sabe sobre o que é verdade.

A enorme liberdade do cidadão diante as redes sociais possibilita uma contaminação sobre a veracidade de informações relativas ao agressor. Por isso, é prudente esperar mais um pouco para poder efetivamente afirmar qualquer coisa a respeito das motivações.

Há enormes possibilidades do ataque ser estimulado por uma mente maluca. O próprio Adélio afirmou que "foi Deus quem mandou", após estar sob os cuidados da polícia federal. 

No entanto, a polícia está investigando a possibilidade de um complô premeditado com o envolvimento de outras três pessoas. A relevância destas informações está sendo respeitada pelo grupo de investigadores e não divide tantos detalhes sobre as teorias investigativas. Esse cuidado demonstra como eles também entendem o delicado momento da sociedade, pois os investigados podem ser alvos de vingança por apaixonados simpatizantes da família Bolsonaro.

As informações, novamente, confundem-se porque há simpatizantes que tem acesso aos corredores da polícia federal e estão sedentos por sangue num contra-ataque que estão ansiosos por realizar.

Esta foto, veiculada na Gazeta do Povo, provando a adulteração de uma imagem criada pelo fotógrafo Ricardo Stuckert - do Instituto Lula, mostra como é difícil fazer qualquer aferição de confiança com materiais que estão disponíveis em redes sociais ou mesmo em grupos de WhatsApp. Portanto, levantar informações que não tenham fundamento sobre fatos ou sobre provas faz aqueles que compartilham também serem responsáveis por alimentar a histeria.

Um lobo solitário muito similar ao agressor

Ao ouvir esta expressão com bastante naturalidade, por grande parte da mídia jornalística, lembrei de Lee Harvey Oswald.

O assassino de John F. Kennedy foi um desertor que simpatizou com as ideias soviéticas e amava Fidel Castro. O assassino tinha sonhos sobre sua relevância para a história e detestava o poder americano que vivia enfrentando os líderes de regimes socialistas.

A fundo sobre o caso que acabou se tornando uma famosa teoria da conspiração, o promotor, obcecado pelo caso, Vincent Bugliosi, demonstra que Lee Oswald foi o único envolvido na tragédia que abalou a América.

Mesmo diante um fato promovido por um louco, sempre há certa necessidade de romantismo diante um fato bruto. Por isso, é comum vermos as teorias conspiratórias tomando efeito e perdurando os anos seguintes. Não será diferente com esse atentado a Bolsonaro, mesmo que seja difícil saber o exato motivo para o atentado.

Adélio Bispo de Oliveira, confirmando suas preferências ideológicas, também terá mais similaridades com o assassino americano que poderíamos imaginar.

Bolsonaro revela ser uma pessoa comum

Diante um vídeo registrando as primeiras reações conscientes de Bolsonaro, vemos uma reação também bastante comum. Ele diz, provavelmente, com total sinceridade, diante o choque emocional de saber que escapou da morte, a seguinte frase: nunca fiz mal a ninguém.

Neste mesmo vídeo, o candidato do PSL também agradece a todos pela força e pela presteza diante seu socorro. O capitão ainda solta frases de efeito, muito mais estimulado pelo condicionamento da campanha eleitoral, porém, pouco racional e consciente da gravidade de seus ferimentos.

Ao contrário do que a polarização prega, ele mostra seu lado pouco coerente com o ódio alimentado pelos contrários. Os divergentes que pregam a superficialidade da situação tentando esfriar a comoção da sociedade não compreendem vídeos como este. 

O que está além da facada é um sentimento de desesperança, porque não conseguimos levantar reflexões para contribuir com o processo de amadurecimento político. Caso este movimento não se mute sobre o polo contrário, teremos ainda mais eventos com temperaturas semelhantes relativos à tentativa de assassinato que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora.


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